Um defunto vivo demais

Um Defunto vivo demais

Escuta este caso
Que agora eu vou contar.
É um caso triste
Que dá pra rir
E, também dá pra chorar.
Quando conto
Pensam que brinco,
Mas esse fato que ocorreu,
Não me lembro,
Se foi em oitenta e quatro
Ou em oitenta e cinco,
Ali nas margens do Rio das Velhas
na linda Santa Luzia,
Onde ficava o Destacamento.
Vou contar o que me lembro
De tudo que ocorreu
Naquele mês de novembro.
O moço que ali chegou
Procurava por um defunto,
Seu irmão,
E queria saber
Se por ali passou.
Em estado deprimente,
Disse que seu irmão
Se afogara, e foi levado
Ao Rio das velhas
Pela enchente de um Ribeirão.
Disse que tinha
Quatro dias que sumiu,
Então ficara sabendo
Que um menino sabido, o viu.
Perguntou o moço, ao guri;
Se o defunto era claro ou moreno
E este respondeu matreiro;
“Seu moço não deu pra vê”
“O corpo passou correndo”
O homem, experiente,
Olhou pra baixo da ponte,
Assustou-se com a enchente.
Viu o volume do Rio
E voltou à realidade,
Falou quase sem pensar,
Ou só pra preencher o vazio,
“Com certeza não era meu irmão”
“Esse tal camarada”.
“Ele foi sempre um cara calmo”
“E logo depois de morto”
“Não aprontaria disparada!”
Em seguida pediu desculpa
Pela brincadeira, que foi só
Pra para quebrar o silêncio.
Convidei o moço
Pra entrar na viatura policial
E fomos beira Rio
por trás do bambuzal.
Encontramos o tal defunto,
De bruço, rodeado de urubus,
Em cima do moribundo.
Ficamos todos calados,
Pasmados e, sem assunto.
Mas, o moço resolveu falar...
“É! Seu Guarda, definitivamente,”
“Aquele não é o meu irmão”
“Ele era cabra macho”
“Daqueles respeitados”
“E sei que depois de morto”
“Não iria ser comido,”
“Assim, de bruço”
“Por esses urubus tarados.”
Todos, achamos engraçado,
Mas seguramos o riso
E ficamos calados.
Se pensamos em rir,
Os nossos semblantes
Nem chegaram a se abrir.
O homem chorava e dizia pra si;
“Oh! meu DEUS, ajude meu irmão”
“Ele não merece sofrer assim”
“Erga tua mão poderosa”
“E traga ele pra mim”
“Rapaz bom, humano”
“O SENHOR, PAI!
“Vai encontrá-lo”
“Eu não me engano”
“Tenho fé nessa hora”
“E sei que não vais “
“Me abandonar, justo agora”.
Levantou a cabeça
E pediu desculpa a todos,
Disse que estava nervoso.
“Eu estou cansado desse vai e vem”.
Então, começou a chorar.
E percebeu que todos ali
Choravam também.
Depois de três dias o moço
Achou o defunto, seu irmão,
Agarrado às folhagens,
Inteirinho como tal,
Próximo ás margens,
Ali mesmo, no Rio das Velhas,
No Barreiro do Amaral.
E eu nunca me esqueci
Dessa estória, que conto
Na brincadeira,
Ou seja, desse caso triste
Que marcou minha carreira.

Autor:Paulo Roberto
Este caso aconteceu quando eu trabalhava em Santa Luzia, era Cabo da PMMG, e o Rio das Velhas estava com uma enchente violenta.

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